quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Cuba - Dia #7 - 29/11


Hoje era dia de desfrutar o resort em Santa Lucia. Praia, piscina, bicicleta com pneu murcho, sol, passeio de charrete, chuva na praia, água geladíssima, e resolvi fazer uma massagem. 
Céus!!!!
A mulher parecia uma britadeira! 
Me chacoalhou tanto que parecia que eu tinha tomado uns 379 shots de tequila e ela estava chacoalhando meu corpo inteiro proporcionalmente à qtde de tequila ingerida. 
Que loucura! 
No final de uma hora saí de lá com mais dor do que entrei e totalmente untada. Pq ela não somente me chacoalhava mas usava MUITO óleo pra isso. 
Na vdd paguei por 3 litros de óleo e ganhei um ensaio de massagem de brinde. 
Na hora de pagar, ela pergunta:
- Nombre?
- Lara
- hsjdidjebsksi?
- De bici
- Bici?
- Si
- Tu apellido és bici?!
- Ahhhh, no! Jesus, pero estoy de bici
Hahahahahaha 
Ela é massagista e não sabe fazer massagem pq eu, brasileira, em Cuba, tenho que entender tudo que ela diz?
Voltei ao meu hotel, (estava no hotel do lado com o resto da galera espanhola e argentina) empurrando a bicicleta pq o pneu murchou. 
Em 3 quadras, uns 3 cubanos se ofereceram pra me dar carona, consertar a bicicleta, carregar a bicicleta, me carregar no colo com a bicicleta, sem a bicicleta, e mil outras coisas. 
Tomei banho umas 3 vezes e lavei os cabelos mais umas 3 pra tirar todo o óleo que a mulher britadeira espalhou em mim. 
Não sei como não escorreguei na rua. Aliás, melhor que tenha murchado o pneu da bici, pq se eu montasse, certeza que escorregaria dela. 
Ah sim, e as bicicletas aqui não tem freio no guidão. Pra frear tem que pedalar pra trás, e cair umas 6394 vezes até se acostumar com isso. 
Esta noite, jantar especial de frutos do mar.
Imaginem minha cara. 
Pedi um peito de frango com legumes =\
Enqto isso na mesa rola um debate político forte. Os argentinos defendendo Cristina, a espanhola chamando Cristina de ladrona, pq ela “roubou” a Repsol, o espanhol mandando a mulher calar a boca. Vixe!
Coisa demais pra escrever, mas foi tenso. 
Aí pra completar; Rebeca começou a contar que sua mãe era guerrilheira da revolução e entregou a fazenda que tinha para a causa. E que ela própria, já tinha sido militar, tradutora do alto escalão do tio Fidel, pq tinha crescido neste meio. 
Que não se comemorava natal ou ano novo, apenas a revolução. 
Isso, segundo ela, só mudou qdo o Papa visitou Cuba. Disse que hoje "até" comemoram o natal. Mas as crianças sequer fazem ideia de quem é papai noel. 
Aí um dos argentinos resolveu perguntar o que comem na ceia de natal. 
Foi quando ela começou o discurso emocionado dizendo que não comem nada de diferente, comem uma salsicha ou carne de porco, que é o que conseguem comprar, que vegetais e frutas são muito caros, que Cuba é linda para o mundo mas que viver aqui, com uma caderneta de racionamento, uma casa com o teto caindo, sem poder comprar uma roupa ou uma carne não é nada bonito. Disse que está desanimada e não acredita em mais nada no país. Que ainda que tivesse uma mudança com eleições e partidos, ela não se posicionaria mais. Continuou dizendo que não sofre por ela, que ela se mantém com seu trabalho e que não se arrepende de ter apoiado o governo, pq na época ela tinha uma crença muito forte nas promessas e na causa. Hoje, seu filho mal tem o que comer ou como alimentar sua neta. Ela se preocupa com o futuro da neta e da sobrinha de 14 anos, cujo o pai morreu este ano e Rebeca cuida dela como filha. Acha um absurdo não poder sair do país. Na época em que era uma militante podia sair, foi a vários países socialistas e comunistas. Comeu carne pela primeira vez na vida na Argentina. Visitou inúmeros países. Tem muitas histórias para contar, mas sente saudade. Hoje trabalha como guia mas não pode sair do país sequer para ir a qq canto da América Latina. "Não estou pedindo para ir à Europa ou Estados Unidos, só gostaria de conhecer outros países próximos".
A tensão na mesa era possível de ser cortada com uma faca. 
O argentino que fez as perguntas já estava com os olhos cheios de lágrimas. As de Rebeca já escorriam. 
Até que um ser iluminado gritou: começou o show! 
E todos se levantaram: Vamos ao show!
Sem dúvida a viagem mais por dentro da história que já fiz. Não é só Havana que exala história. Todos os cubanos e todos os cantos de Cuba tb. 
Fomos ao show. Miss Laje fez muito sucesso pq havia muitos cubanos lá, mas estou refletindo desde então. 
Não consigo e nem quero julgar. Queria entender. Só. 

E então me lembro de uma das frases mais verdadeiras que já ouvi: "toda história tem 3 lados, o seu, o meu, e a verdade". 

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