sábado, 6 de dezembro de 2014

Cuba - Dia #2 - 24/11


Caminhar em Havana é uma aventura!
Primeiro que você é tão elogiada, que sua auto-estima quase escapa do seu corpo! 
Do nada surge o Jon do seu lado e começa a conversar, MUITO. 
- Antes de falar o que conversamos e antes que vc continue lendo os posts da viagem: este é um relato de viagem, minha viagem, minha conversa com Jon e eu não sou certificada pra falar de política. Só estou contando o que ouvi. Então, não se dê ao trabalho de vir comentar qq coisa polêmica ou xiita sobre o assunto. Este é só um ponto de vista, que nada mais é que a vista de um ponto. 
Ele quer saber o que acontece no mundo, como são as coisas no Brasil. Todos têm internet? Pode levar o livro da biblioteca pra casa? Wifi na rua?????
É, como vc disse, Lara, nós paramos no tempo! 
É Jon, vc nem imagina! 
 (Maura, te dedico este diálogo)
- quantos anos vc tem, Lara?
- 39
- nossa, Lara! Como te conserva?
- durmo no formol, Jon
Aí o Jon me contou que aqui em Cuba eles só têm 2 canais de TV. Os dois do governo. Ele só pode ficar por 2 horas na biblioteca e não pode levar o livro pra casa.
Depois de perguntar se eu era da polícia, abriu o coração. Disse que não gosta de Fidel, mas que ele é melhor que Raul. Disse que Raul é mais rígido. 
Aí eu pergunto: mas pq o povo não se revolta e se liberta, assim como Fidel e cia fizeram há 50 e tantos anos? 
O povo tem medo por isso não faz revolução, não sai às ruas, não fala nada. O povo não tem informação, De nada que não seja dos países "simpatizantes" (a Venezuela aparece na TV 24h como sendo a melhor noticia do mundo). E ainda assim a informação é selecionada já que a TV e o jornal são do governo. 
Ele estuda medicina mas sequer sabe do "Mais médicos" ou o nome do presidente do Brasil. 
Quem estuda não pode trabalhar. Ou uma coisa ou outra. 
Em cada quadra há um militar responsável pela quadra. Há eleições anuais para eleger este militar. Mas é só mais um militar. Nada muda. A cada quadra tb há alguém do governo, "infiltrado" na vizinhança para ficar de olho no que as pessoas falam. Em contrapartida há muita segurança. Mas fiquei pensando: a que preço, han?!
1 de maio, 26 de julho e 8 de dezembro todos devem se reunir na praça da revolução onde Fidel/Raul fala por 5 horas ininterruptas. E o povo debaixo do sol escaldante. E não há escolha. São obrigados a comparecer. 
Tem lista de presença. Se não for, vai pro seu prontuário/cadastro/expediente. Seja lá o que isso signifique. Mas se seu nome estiver nesta lista, você perde benefícios, trabalho, enfim, sua vida fica pior do que já é. 
A saúde e educação são grátis e muito boas, segundo ele. No entanto, as farmácias nacionais (específicas para os cubanos) estão sempre com as prateleiras vazias ou próximo disto. Já as farmácias internacionais, até têm os remédios, mas a preços exorbitantes para cubanos. 
Só tem internet no hotel. Papel higiênico também. Ainda assim é lenta e caríssima. A internet. O papel só não vem picotado. 
Jon foi caminhando comigo. E foi me levando pra uns cantos muito periferia. Tipo pra lá da ZL. Ele perguntou o que eu levaria de Cuba: charutos, rum ou salsa?
Eu disse que tenho um amigo que gosta muito de charutos e que estava pensando em levar alguns pra ele. Foi aí que tudo mudou, viu, Jairo! 
O problema é que eu estava tão empolgada no papo que não percebi. 
Jon mudou o caminho. Primeiro parou numa galeria pra eu beber água. Esperou que eu bebesse. Me pediu revistas, jornais, livros que falassem do que está acontecendo no mundo. Eu anotei o endereço dele pra enviar depois. Aí ele veio com um papo de que uma caixa de Cohiba custava 500 cucs. O que seria muito caro. E que ele como estudante conseguiria comprar por 1/3 do valor. 
Eu disse que ainda assim achava caro e que meu amigo ficaria sem charutos. 
E ele: qto vc tem de dinheiro aí? Menti. Disse que só tinha 40 pra passar o dia. 
Ele me levou num banco pra eu sacar com cartão de crédito. Sério! 
Aí falei que meu cartão não funcionava fora do país e que eu não ía comprar os charutos. 
Ok. Achei que tinha sido suficiente. 
Mas claaaaaaro que não. Saímos na rua eu só pedi a direção de Habana Vieja, que era onde eu estava tentando chegar desde que saí do hotel. Ele só apontava uma direção qq e ia me levando pelas ruas até que: Tcharam! Esta é minha casa - disse Jon. 
Gente! Sério! Eu sou uma estúpida. Pq eu era ingênua quando ele falou bom dia. Nessa altura eu já era uma perfeita imbecil. 
Me apresentou a Shakira, sua cachorrinha. Muito fofa. Parte bem legal da história. 
Aí falou: mi casa tu casa. 
E disse que já voltava. Surtei. Como é que o cara me deixa lá na casa dele. 
Não. PIOR! PQ RAIOS EU fui até lá!?!?! 
Em minutos ele volta com um pacote de charutos. Segundo ele, conseguiu com muito desconto pq disse que era estudante e estava comprando pra uma amiga que estava lá num congresso de informática. SÉRIO!
- Jon, não vou gastar 40 contos num embrulho de charutos que nem são os que eu queria. 
- Sim são Cohiba!
- Jon, tá escrito MOYA! 
- Mas são Cohiba!
- Tá, eu vou embora. Me fala pra que lado fica Habana Vieja. 
Aí ele quase chorou. Que ele ia ficar muito mal com essa gente (os que venderam o charuto super confiável para ele), que ele tinha conseguido os charutos pra mim. Mimimimimi
Aí encheu meu copinho. Que já deveria ter enchido antes. 
- Jon, seguinte, eu disse que não queria, que não estava com dinheiro e não pedi pra vc comprar nada. Então, vai lá e devolve. 
- ah, não posso devolver pq já passou pelo caixa
Ha-ha-ha faça-me rir!
- Jon, fica com eles e vende pra outra pessoa. 
Nisso chega a mãe dele. Uma senhorinha fofa, enfermeira, mãe de um filho esperto. Me cumprimentou e foi pro fundo da casa. 
Jon me encheu o saco. Queria que eu pagasse 30 nos charutos e usasse os 10 restantes para comer e pegar taxi. Até fez as contas pra mim. Que amor, né? #sqn
Jon, seguinte, pra vc me deixar ir embora pq eu fui imbecil o suficiente pra entrar, tá aqui um dinheiro. Vende estes charutos e pega pra vc (e ele insistindo pra eu pegar 5). 
Aí ele ainda pediu 4,50 pra comprar leite e o protetor solar loreal que eu tinha passado no rosto. 
Jon, tá aqui um lux e uma pasta colgate. Fique feliz. 
Saí de lá correndo. 
Bem que a Luciana me avisou. Mas é aquela história, a gente só aprende com os próprios erros. E como ele não falou mais dos charutos no caminho, achei que ele tinha desencanado. Enfim. 
Aprendi. 
Aprendi? Não! Claro que não. Eu pinto o cabelo de vermelho por uma razão bem óbvia. 
Parei pra fotografar um açougue a céu aberto e do meu lado parou o Héctor. Pronto. Me arrastou pela cidade. 
Desta vez eu saquei que ele queria dinheiro. Mas me fiz de idiota pra ele ir me levando nos lugares que eu queria. Assim eu não precisava abrir o mapa toda hora. 
Héctor me contou que todos têm celular. É barato. Mas só serve para falar. Internet no celular não existe. 
O salário mínimo é de 30 cucs. Algo como 90 reais. 
Há uma cota de um pão por dia por pessoa. E uma cota mensal de sabonete, pasta de dentes, açúcar, cafe, arroz, feijão. 
Se acabar, tem que comprar. Como? Com o salário mínimo. Fácil né? 
Chegamos no Museo de La Revolution. Eu tinha lido muito sobre o assunto. Queria muito ver o museu. 
Primeiro o Héctor tentou me convencer a não entrar. Disse que não tinha nada demais, que era caro e não valia à pena. 
Eu disse que ia entrar assim mesmo. 
Aí ele resolveu que queria entrar comigo. 
Falei que não. 
Nossa! Foi a maior ofensa do mundo! 
- mas eu pago a minha entrada! 
- mas não quero. Quero ficar sozinha. (No pensamento "mim deixa")
- mas lá dentro uma guia vai te cobrar 2 cucs pra visita
- eu quero entrar sozinha, quero ficar sozinha, muito obrigada por sua cia. 
- então te espero aqui fora
- não! Eu vou demorar
- mas eu espero!
- não, não quero. Quero ficar sozinha (já estava quase gritando)
- tá bom, mas vc não vai me dar nada? Tenho um filho pra criar! 
- mas eu não pedi pra vc vir comigo, menos ainda pra ter um filho. Mas ok, tá aqui. 
Dei 1,75. E ele:
- me dá 2
- é o que eu tenho
- espero vc pagar o museu e pegar o troco
Ahhhhhhh faça-me o favor!
- não Héctor! Obrigada pela cia e tchau. 
Caraca! É muito muito muito sei-la-o-quê!
Fiquei um tempão no museu, acompanhando tudo com meu guia de bolso. E cara! Faltava um Fidel e um Che, jovens no meio desse povo pra mudar essa bagaça toda que existe hoje. Pq o que eles fizeram na Revolução foi genial demais. 
Saí do museu e lá vem um taxista querendo me vender tours no atacado. 
Falei que prefiro caminhar e fotografar. 
E ele solta a pérola: "caminhando e tirando foto vc não conhece nada"
Pois é. Ainda assim prefiro caminhar. 
Na sequência uma mulher pergunta onde comprei minha flor. Qdo respondi que tinha sido no Brasil, ela pediu desculpas, pq achou que eu era cubana. 
Aham. Eu devo ter a cara do mundo né. Pq me atribuem todas as nacionalidades menos brasileira. 
Finalmente cheguei em Habana Vieja e bati perna pra caraca. E começou a chover. Fiz a garota da camiseta molhada e continuei andando. 
Fui no Museu do Chocolate repor energias e resolvi voltar pro hotel por volta das 16h30, 17h. 
Decidi pegar um Cocotaxi. (Google it) Divertido demais. Adorei. 
No hotel, um bem merecido e relaxante banho de piscina. 
O dia estava quase acabando. 
Decidi que tinha que dar sinal de vida, pelo menos pra minha mãe. 
Comprei um cartão telefônico por 10 cucs pra falar por 7 minutos. 
Não funcionava. 
Tentei ligar do hotel. E o telefone de casa, obviamente, ocupado. 
Resolvi comprar uma hora de internet lenta por 10 cucs. O lugar que vendia estava fechado. 
Foi qdo conheci o Rui. Um brazuca gente boa que me sugeriu o sms. Não sem antes tentar falar comigo em espanhol pq achou que eu era cubana. Segundo do dia. 
É. Eu não tinha pensado no sms.  
Fim do dia muito cedo, fui dormir às 21h pq tinha que acordar às 2h para o checkout. 
Too much adventure pra um dia só! :)

3 comentários:

  1. Que loucura! Que realidade! Incrível esse dia! Aventuras em série! E eu em casa já preocupado com você por não saber notícias suas.

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    1. hahaha seu lindo! agora vc entendeu que eu não tinha como me comunicar :)

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