sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Borboletas

Começaram bem.
Se não fosse bem pelo menos no início, nem teriam começado, não?
Um simples toque de um já fazia arrepiar o corpo todo do outro.
Ele fazia questão de se lembrar de todas as regras de etiqueta que sua mãe havia ensinado para não fazer feio na frente dela.
Ela comia pouco para que ele tivesse uma boa impressão.
Ela não se importava se ele atrasasse um pouquinho ou até 30 minutos.
Ele também não reclamava de esperar no carro quando chegava em sua casa e ela ainda estava no banho.
Ela arrumava a bagunça do quarto enquanto ele estava no banho só pra vê-lo surpreso quando voltasse.
Nos poucos momentos que tinham a sós, se devoravam como loucos, sedentos um pelo outro, o sexo era selvagem e quente.
O que sentiam um pelo outro aumentava a cada momento, eles já não conseguiam mais ficar muito tempo separados.

Depois de cinco meses, resolveram apresentar-se às famílias.
Ela achava lindo o sobrinho dele pedindo para ficar em seu colo.
Ele adorava quando a sogra lhe trazia bolinhos quentinhos.
Ela passava horas conversando com o pai dele sobre os mais variados assuntos.
Ele ajudava o pai dela nos tradicionais churrascos de domingo.
Eram sábados com a família dele e domingos com a família dela.
Formavam o casal mais alegre já visto.
Estavam no auge da paixão, tudo parecia perfeito, tudo estava bom demais pra ser verdade.

Depois de 10 meses, o primeiro natal juntos.
Resolveram unir as famílias.
As sogras na cozinha animadas preparando a ceia.
Os pais e os tios na sala, comentando sobre os últimos jogos de futebol.
As crianças no quintal brincando e aguardando o papai noel.
As tias se conhecendo e trocando receitas de crochê.
Os primos conversando numa roda de jovens e eles juntos.
Parecia um sonho, agora já podiam afirmar que o que sentiam era mesmo amor, o mais puro sentimento, buscado por todos e alcançado por poucos.
A vida tinha um outro sentido, tudo era bom e o que não era, podia ser visto pelo lado positivo de ser um dia melhor.
Tudo podia melhorar, eles poderiam conquistar qualquer coisa que quisessem desde que estivessem juntos. Queriam estar perto o máximo que pudessem. Encontraram um no outro, o que sempre buscaram pelo mundo, o que faltava no seu íntimo, finalmente tinham achado alguém que os completava.

Completaram 1 ano de namoro e resolveram ficar noivos na mesma data.
Mais uma festa unindo as famílias.
Os pais emocionados, os noivos nervosos. Juras de amor infinitas. Promessas de um futuro feliz com a união dos dois.
Lágrimas escorriam pelo rosto de ambos enquanto trocavam as alianças prometendo com o mais íntimo de suas almas que se amariam pela eternidade.

Já não podiam mais imaginar-se separados, a simples idéia de viverem longe um do outro lhes fazia faltar o ar, era como se o chão sumisse debaixo de seus pés e uma grande vertigem tomasse conta deles. O amor era o mínimo que podiam sentir, na verdade eles arriscavam dizer que sentiam muito mais do que amor mas ainda não tinham descoberto uma palavra que pudesse explicar o que era.

Segundo natal em família na casa dele.
A mãe dele na cozinha enquanto a mãe dela ficava na sala.
O pai dele e seus tios discutindo futebol.
O pai dela? Nem foi.
Os jovens em uma rodinha falando de assuntos banais.
Os nossos dois amantes? No portão discutindo.
Ela tinha se atrasado, ele havia ficado mais de 10 minutos aguardando na sala da casa dela. Claro que esse foi só o fator que desencadeou a discussão. Afinal, ela tinha ido tomar banho mais tarde porque ele nunca chegava no horário.
Ele reclamava que a mãe dela não queria chegar perto da mãe dele.
Ela dizia que a mãe dele sempre foi grossa com a sua mãe e nunca deixou que ela fizesse nada na cozinha.
O pai dela nem estava presente porque tinha discutido com o pai dele no último jogo de futebol.
Ele reclamava que queria ter saído com os amigos, mas que por causa dela e da família dela, ele tinha que ficar na festa.
Os assuntos se misturaram, afinal, se ele não fosse tão porco à mesa, arrotando a cada garfada, talvez a irmã dela tivesse vindo.
Ou então se a casa dele não fosse tão bagunçada.
Ou ainda se aquele sobrinho maldito parasse de pentelhar e querer sentar no colo.
Ou se a mãe dela parasse de oferecer aqueles nojentos bolinhos que lhe causavam náuseas e dores de barriga.
Ou se ele pudesse fazer outra coisa aos domingos além de ter que ficar na casa dela, assistindo um programa idiota e comendo aquele churrasco de carne de terceira.
As crianças corriam e gritavam. Malditas crianças, não podiam calar as bocas por um momento para que pudessem discutir em paz?
E o sexo? Ah, o sexo, porque haviam tocado naquele assunto?
Se ele não gozasse tão rápido, desse mais atenção ao prazer dela e não dormisse logo em seguida.
Se ela não comesse tanto talvez ele ainda tivesse tesão pelo corpo dela e conseguisse demorar mais pra gozar, já era um sacrifício ter que gozar com ela e ela ainda queria que demorasse mais?
Silêncio.
Ela pediu que não se importasse com isso e fizesse só o que realmente queria fazer.
Foi nesse momento que ele entrou no carro.
Ela voltou para sua casa.
Lá ficaram as famílias que se odiavam, transmitindo falsos desejos de feliz natal a quem mal suportavam e tão grande era a festa que não notaram a ausência dos dois.

3 comentários:

  1. Ah Malu, fiquei deprimida agora. Vamos voltar a falar dos loucos do MSN ahahahahaha.

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  2. hahahaahhaah, total deprê.

    visitei aqui outro dia e ri tanto desses tais loucos. Jisuis. adoro. qualquer dia eu conto da vez que sei lá por que dei meu telefone pra um judeu ortodoxo que eventualmente sismou que casaríamos e teríamos muitos filhos.

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  3. putsgrila! trágico, mas eu gosto do jeito que vc escreve! hahaha

    beijocas

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