quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A vida é tão Rara...


Então... Me sentei num banquinho da praça, que tinha umas agendas e uns saquinhos num canto. Fiquei lá tomando meu sorvete, ouvindo um músico tocar no bar do lado e esperando o tempo passar.

Eis que chega uma mulher e senta no banco. As coisas eram dela. 
Ela é hippie, artesã, cheia de dreads e bem morena.
Bonita.
Sorri.
Se apresenta.
Seu nome é ******** (eu preciso começar a prestar mais atenção nos nomes das pessoas quando elas se apresentam).
Me apresentei e ela sorriu: minha filha é Rara! Muito parecido.
Contou que foi casada por 10 anos com um paulista, em Embu das Artes.
- E como você chegou aqui? veio passar férias e não voltou mais?
- Lara, e eu tenho cara de turista?
- Hahaha sei lá né. Tanta gente que conheci aqui fez isso.
- Não. Eu vim pra cá pq ia pra Venezuela
- Desconfio que você não foi! Hahahaha
- Pois é. Não fui. Fiquei aqui. E tenho a Rara e a ****. Moro com um companheiro. Lá em São Paulo tenho mais dois filhos: Zeus e ****. Já sou avó de 3 netos. Eles vêm me visitar em dezembro.

Neste momento passou Rara.

- Rara, venha aqui minha filha. Está aqui é a Lara. Lara Rara, Rara Lara.

A menina loirinha, com traços angelicais, tímida, se enroscou na mãe.
- Ela não está acreditando que seu nome é esse. Ela acha que estou brincando com ela.
- Oi Rara. Temos nomes parecidos.

- Mãe, eu quero sorvete!
- Ahhhh só pq vc viu a Lara tomando - e começou a procurar dinheiro em suas coisas. Revirou e não achou. Ficou brava. Me olhou com muita raiva nos olhos e disse: - ****** me roubou!

- Vamos lá, Rara. Vou pagar um sorvete pra você.
- Não, não, eu vou pegar meu dinheiro
- Me deixe pagar um sorvete pra sua filha. Posso?
- Pode sim - enquanto continuava a procurar o dinheiro.

- Vamos, Rara. Qual sabor você quer?
Rara pensando por alguns segundos: quero de morango, num copinho. mas quero um copinho a mais pra dividir com minha prima. Mas é um sorvete só, moça. Só quero dividir.
Rara saiu feliz com o sorvete enquanto sua mãe veio mostrar que tinha achado o dinheiro.
- Flor, não quero dinheiro. Foi um prazer pagar um sorvete para sua filha linda.
- Então você vai ganhar um presente meu. Brinco, colar, pulseira?
- O que você quiser me dar

Ela pediu que um dos caras que estavam com ela fosse buscar uma sexta e me desse o ultimo colar que eles tinham feito, um de olho de boi.

O moço foi até sei lá onde, e voltou com uma sexta. Me deu um colar lindo. Falou o nome de todas as sementes do colar. 

No meio, uma semente de ***** que eles chamam de olho de boi.
Foi quando ele me olhou, mais pra lá do que pra cá, e disse:
- Tem cheiro de... Como chama aquilo de lavar roupa?
- Sabão?
- Isso. Sabão em pó.
Imediatamente cheirei a semente. E ele:
- Não a semente, você. Você tem cheiro de sabão em pó.
Não sei até agora como classificar esta última frase.

*****voltou.
- Flor, o colar é lindo. Muito obrigada!
- Leve. Não importa o valor, a sua atitude hoje valeu mais que tudo - beijou minha mão - você é uma pessoa especial demais. todos somos especiais, mas as pessoas não dão importância às pequenas coisas da vida, ao que realmente é importante. e você dá, então você é mais especial. e você é linda!
- Obrigada! E obrigada por esta oportunidade. Você e sua filha linda alegraram minha noite.
- Vai com Deus! E que Jesus proteja você e sua família.
- Amém para todos nós.

E assim eu voltei, caminhando pelas ruas escuras e quietas, olhando os zilhões de estrelas que enfeitam o céu de Alter do Chão e pensando no quanto podemos fazer de bem uns aos outros com atitudes simples e algumas palavras.
Ahhhh aquela sensação indescritível de uma noite boa encerrando um dia pra lá de bom.
 — at Orla De Alter Do Chao.

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