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As lágrimas continuavam a escorrer, enquanto ela olhava para o lado da cama.
Ao seu lado ninguém. A cama continuava vazia.
Mas não chorava pelo vazio.
Não queria preenchê-la.
Esperava que ela nunca se preenchesse.
As únicas vezes em que ela fora preenchida, soube que seria momentâneo, que não existiria ainda uma pessoa que pudesse preencher aquela cama para sempre.
E sentia assim. Que não havia quem pudesse preencher seu coração.
Ele continuaria vazio, enquanto ela continuaria chorando.
Sabia que não encontraria alguém que a satisfizesse a ponto de preencher aquele vazio.
Mas até quando as coisas seriam assim?
Até quando erraria e divertiria-se com o errado?
Até quando reconheceria seus erros para na próxima esquina errar novamente?
O sentimento que lhe corroía a mente não conhecia a esperança.
Uma derrota inimaginável, lhe consumia de um modo que lhe dava a certeza que aqueles eram seus últimos minutos.
Sentada no quintal, de vestido florido e uma boneca nas pernas. Do seu lado, uma caneca e um canudo. Bolhas de sabão flutuavam. Em cada uma delas, o reflexo de uma etapa da vida.
Não sabia porquê, mas lembrara daquilo.
Sua primeira cachorra chegou em casa. Sua primeira bicicleta. Seu primeiro tombo.
Um beijo na testa de um grande amor da pré-escola. A vergonha de descobrirem que amava o menino mais lindo da classe.
O prazer da primeira vez. O medo de ser descoberta. A insanidade de ter alguém proibido.
Ciúme de amiga. A única surra.
As lágrimas da mãe. Um beijo do pai.
Cada bolha lhe mostrava uma fase, um momento, uma alegria, uma decepção.
Percebeu que havia muito mais bolhas de decepção do que gostaria que houvesse.
Olhou para cima. Queria que o teto se abrisse e o céu descesse em seu socorrro.
Mas o teto não se moveu. Por mais que quisesse, ele continuava ali, tão transparente quanto o concreto consegue ser.
Quanto mais suplicava, mais sentia-se afundar no colchão.
Era como se aquele medo, aquela angústia e todo seu erro, lhe engolissem, enquanto via o teto se distanciar.
Seus membros já não se moviam. Retesados. Endurecidos. Petrificados.
Ficou à espera do próximo segundo, do próximo minuto, do que aconteceria em pouco tempo.
Fechou os olhos e prestou atenção ao seu redor. Quis ouvir o silêncio, pra ver se ele realmente existia.
Não conseguia desvencilhar-se de seus pensamentos, por mais que tentasse.
Eles a sobrecarregavam com um turbilhão de emoções, atropelavam, faziam com que seus outros sentidos perdessem suas capacidades.
Não ouvia, não falava, não mexia, não enxergava, não sentia a textura do lençol em sua pele. Era apenas uma pressão sobre si mesma, de um modo como nunca havia sentido.
Ao longe ouvia um zumbido.
Um apito baixo mas constante.
Um som que fundia-se com os outros sons do ambiente.
Quase que um gemido intrigante.
Um piiiii quase que insuportável mas já não tão insuportável assim.
Começou a distanciar.
A pressão diminuía.
Já não irritava tanto.
A única coisa que sentia, era a última lágrima escorrendo e entrando no ouvido.
Uma sirene que silenciava.
Algo que já estava longe.
Enfim, o silêncio.
E agora, total.
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Quer me matar????
ResponderExcluirTira foto melhor, escreve melhor...
Estou deprimido....
rssssssssss
Depois visita o meu...
http://vidaazulbanana.blogspot.com/
recém-atualizado...
Mil beijos
num chora!
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