sábado, 6 de dezembro de 2014

Cuba - Dia #2 - 24/11


Caminhar em Havana é uma aventura!
Primeiro que você é tão elogiada, que sua auto-estima quase escapa do seu corpo! 
Do nada surge o Jon do seu lado e começa a conversar, MUITO. 
- Antes de falar o que conversamos e antes que vc continue lendo os posts da viagem: este é um relato de viagem, minha viagem, minha conversa com Jon e eu não sou certificada pra falar de política. Só estou contando o que ouvi. Então, não se dê ao trabalho de vir comentar qq coisa polêmica ou xiita sobre o assunto. Este é só um ponto de vista, que nada mais é que a vista de um ponto. 
Ele quer saber o que acontece no mundo, como são as coisas no Brasil. Todos têm internet? Pode levar o livro da biblioteca pra casa? Wifi na rua?????
É, como vc disse, Lara, nós paramos no tempo! 
É Jon, vc nem imagina! 
 (Maura, te dedico este diálogo)
- quantos anos vc tem, Lara?
- 39
- nossa, Lara! Como te conserva?
- durmo no formol, Jon
Aí o Jon me contou que aqui em Cuba eles só têm 2 canais de TV. Os dois do governo. Ele só pode ficar por 2 horas na biblioteca e não pode levar o livro pra casa.
Depois de perguntar se eu era da polícia, abriu o coração. Disse que não gosta de Fidel, mas que ele é melhor que Raul. Disse que Raul é mais rígido. 
Aí eu pergunto: mas pq o povo não se revolta e se liberta, assim como Fidel e cia fizeram há 50 e tantos anos? 
O povo tem medo por isso não faz revolução, não sai às ruas, não fala nada. O povo não tem informação, De nada que não seja dos países "simpatizantes" (a Venezuela aparece na TV 24h como sendo a melhor noticia do mundo). E ainda assim a informação é selecionada já que a TV e o jornal são do governo. 
Ele estuda medicina mas sequer sabe do "Mais médicos" ou o nome do presidente do Brasil. 
Quem estuda não pode trabalhar. Ou uma coisa ou outra. 
Em cada quadra há um militar responsável pela quadra. Há eleições anuais para eleger este militar. Mas é só mais um militar. Nada muda. A cada quadra tb há alguém do governo, "infiltrado" na vizinhança para ficar de olho no que as pessoas falam. Em contrapartida há muita segurança. Mas fiquei pensando: a que preço, han?!
1 de maio, 26 de julho e 8 de dezembro todos devem se reunir na praça da revolução onde Fidel/Raul fala por 5 horas ininterruptas. E o povo debaixo do sol escaldante. E não há escolha. São obrigados a comparecer. 
Tem lista de presença. Se não for, vai pro seu prontuário/cadastro/expediente. Seja lá o que isso signifique. Mas se seu nome estiver nesta lista, você perde benefícios, trabalho, enfim, sua vida fica pior do que já é. 
A saúde e educação são grátis e muito boas, segundo ele. No entanto, as farmácias nacionais (específicas para os cubanos) estão sempre com as prateleiras vazias ou próximo disto. Já as farmácias internacionais, até têm os remédios, mas a preços exorbitantes para cubanos. 
Só tem internet no hotel. Papel higiênico também. Ainda assim é lenta e caríssima. A internet. O papel só não vem picotado. 
Jon foi caminhando comigo. E foi me levando pra uns cantos muito periferia. Tipo pra lá da ZL. Ele perguntou o que eu levaria de Cuba: charutos, rum ou salsa?
Eu disse que tenho um amigo que gosta muito de charutos e que estava pensando em levar alguns pra ele. Foi aí que tudo mudou, viu, Jairo! 
O problema é que eu estava tão empolgada no papo que não percebi. 
Jon mudou o caminho. Primeiro parou numa galeria pra eu beber água. Esperou que eu bebesse. Me pediu revistas, jornais, livros que falassem do que está acontecendo no mundo. Eu anotei o endereço dele pra enviar depois. Aí ele veio com um papo de que uma caixa de Cohiba custava 500 cucs. O que seria muito caro. E que ele como estudante conseguiria comprar por 1/3 do valor. 
Eu disse que ainda assim achava caro e que meu amigo ficaria sem charutos. 
E ele: qto vc tem de dinheiro aí? Menti. Disse que só tinha 40 pra passar o dia. 
Ele me levou num banco pra eu sacar com cartão de crédito. Sério! 
Aí falei que meu cartão não funcionava fora do país e que eu não ía comprar os charutos. 
Ok. Achei que tinha sido suficiente. 
Mas claaaaaaro que não. Saímos na rua eu só pedi a direção de Habana Vieja, que era onde eu estava tentando chegar desde que saí do hotel. Ele só apontava uma direção qq e ia me levando pelas ruas até que: Tcharam! Esta é minha casa - disse Jon. 
Gente! Sério! Eu sou uma estúpida. Pq eu era ingênua quando ele falou bom dia. Nessa altura eu já era uma perfeita imbecil. 
Me apresentou a Shakira, sua cachorrinha. Muito fofa. Parte bem legal da história. 
Aí falou: mi casa tu casa. 
E disse que já voltava. Surtei. Como é que o cara me deixa lá na casa dele. 
Não. PIOR! PQ RAIOS EU fui até lá!?!?! 
Em minutos ele volta com um pacote de charutos. Segundo ele, conseguiu com muito desconto pq disse que era estudante e estava comprando pra uma amiga que estava lá num congresso de informática. SÉRIO!
- Jon, não vou gastar 40 contos num embrulho de charutos que nem são os que eu queria. 
- Sim são Cohiba!
- Jon, tá escrito MOYA! 
- Mas são Cohiba!
- Tá, eu vou embora. Me fala pra que lado fica Habana Vieja. 
Aí ele quase chorou. Que ele ia ficar muito mal com essa gente (os que venderam o charuto super confiável para ele), que ele tinha conseguido os charutos pra mim. Mimimimimi
Aí encheu meu copinho. Que já deveria ter enchido antes. 
- Jon, seguinte, eu disse que não queria, que não estava com dinheiro e não pedi pra vc comprar nada. Então, vai lá e devolve. 
- ah, não posso devolver pq já passou pelo caixa
Ha-ha-ha faça-me rir!
- Jon, fica com eles e vende pra outra pessoa. 
Nisso chega a mãe dele. Uma senhorinha fofa, enfermeira, mãe de um filho esperto. Me cumprimentou e foi pro fundo da casa. 
Jon me encheu o saco. Queria que eu pagasse 30 nos charutos e usasse os 10 restantes para comer e pegar taxi. Até fez as contas pra mim. Que amor, né? #sqn
Jon, seguinte, pra vc me deixar ir embora pq eu fui imbecil o suficiente pra entrar, tá aqui um dinheiro. Vende estes charutos e pega pra vc (e ele insistindo pra eu pegar 5). 
Aí ele ainda pediu 4,50 pra comprar leite e o protetor solar loreal que eu tinha passado no rosto. 
Jon, tá aqui um lux e uma pasta colgate. Fique feliz. 
Saí de lá correndo. 
Bem que a Luciana me avisou. Mas é aquela história, a gente só aprende com os próprios erros. E como ele não falou mais dos charutos no caminho, achei que ele tinha desencanado. Enfim. 
Aprendi. 
Aprendi? Não! Claro que não. Eu pinto o cabelo de vermelho por uma razão bem óbvia. 
Parei pra fotografar um açougue a céu aberto e do meu lado parou o Héctor. Pronto. Me arrastou pela cidade. 
Desta vez eu saquei que ele queria dinheiro. Mas me fiz de idiota pra ele ir me levando nos lugares que eu queria. Assim eu não precisava abrir o mapa toda hora. 
Héctor me contou que todos têm celular. É barato. Mas só serve para falar. Internet no celular não existe. 
O salário mínimo é de 30 cucs. Algo como 90 reais. 
Há uma cota de um pão por dia por pessoa. E uma cota mensal de sabonete, pasta de dentes, açúcar, cafe, arroz, feijão. 
Se acabar, tem que comprar. Como? Com o salário mínimo. Fácil né? 
Chegamos no Museo de La Revolution. Eu tinha lido muito sobre o assunto. Queria muito ver o museu. 
Primeiro o Héctor tentou me convencer a não entrar. Disse que não tinha nada demais, que era caro e não valia à pena. 
Eu disse que ia entrar assim mesmo. 
Aí ele resolveu que queria entrar comigo. 
Falei que não. 
Nossa! Foi a maior ofensa do mundo! 
- mas eu pago a minha entrada! 
- mas não quero. Quero ficar sozinha. (No pensamento "mim deixa")
- mas lá dentro uma guia vai te cobrar 2 cucs pra visita
- eu quero entrar sozinha, quero ficar sozinha, muito obrigada por sua cia. 
- então te espero aqui fora
- não! Eu vou demorar
- mas eu espero!
- não, não quero. Quero ficar sozinha (já estava quase gritando)
- tá bom, mas vc não vai me dar nada? Tenho um filho pra criar! 
- mas eu não pedi pra vc vir comigo, menos ainda pra ter um filho. Mas ok, tá aqui. 
Dei 1,75. E ele:
- me dá 2
- é o que eu tenho
- espero vc pagar o museu e pegar o troco
Ahhhhhhh faça-me o favor!
- não Héctor! Obrigada pela cia e tchau. 
Caraca! É muito muito muito sei-la-o-quê!
Fiquei um tempão no museu, acompanhando tudo com meu guia de bolso. E cara! Faltava um Fidel e um Che, jovens no meio desse povo pra mudar essa bagaça toda que existe hoje. Pq o que eles fizeram na Revolução foi genial demais. 
Saí do museu e lá vem um taxista querendo me vender tours no atacado. 
Falei que prefiro caminhar e fotografar. 
E ele solta a pérola: "caminhando e tirando foto vc não conhece nada"
Pois é. Ainda assim prefiro caminhar. 
Na sequência uma mulher pergunta onde comprei minha flor. Qdo respondi que tinha sido no Brasil, ela pediu desculpas, pq achou que eu era cubana. 
Aham. Eu devo ter a cara do mundo né. Pq me atribuem todas as nacionalidades menos brasileira. 
Finalmente cheguei em Habana Vieja e bati perna pra caraca. E começou a chover. Fiz a garota da camiseta molhada e continuei andando. 
Fui no Museu do Chocolate repor energias e resolvi voltar pro hotel por volta das 16h30, 17h. 
Decidi pegar um Cocotaxi. (Google it) Divertido demais. Adorei. 
No hotel, um bem merecido e relaxante banho de piscina. 
O dia estava quase acabando. 
Decidi que tinha que dar sinal de vida, pelo menos pra minha mãe. 
Comprei um cartão telefônico por 10 cucs pra falar por 7 minutos. 
Não funcionava. 
Tentei ligar do hotel. E o telefone de casa, obviamente, ocupado. 
Resolvi comprar uma hora de internet lenta por 10 cucs. O lugar que vendia estava fechado. 
Foi qdo conheci o Rui. Um brazuca gente boa que me sugeriu o sms. Não sem antes tentar falar comigo em espanhol pq achou que eu era cubana. Segundo do dia. 
É. Eu não tinha pensado no sms.  
Fim do dia muito cedo, fui dormir às 21h pq tinha que acordar às 2h para o checkout. 
Too much adventure pra um dia só! :)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cuba - Dia #1 - 23/11





Primeira coisa muito importante: eu sou a Monica em Barbados. Se vc não assistiu este episódio de Friends, corra pra ver agora. 

YAY! Vou chegar, vou andar X kms, conhecer 2578 coisas e zzzzzzz. 
Dormi. 
Minha cara. 
As pessoas aqui são muito solícitas! Te ensinam a chegar em qq lugar. Mas do jeito delas. Algo do tipo: vire à direita na esquina. 
Só esquecem de dizer o que vc tem que fazer depois. 
À noite fui a um show do Buena Vista Social Club. Muito muito legal, mas pra chegar lá, claro que me perdi. Quando encontrei um par de guardas. Perguntei pra moça:
- por favor, donde es Taberna Cafe?
- aqui
- gracias
Foi qdo o guarda que estava com ela perguntou: 
- necessita compania? 
Hahahaha pq né, um guarda em Cuba não deve ganhar mais que 2 salários mínimos, ou seja, sou seu público alvo. 
Na volta, peguei um táxi naqueles carros antiquíssimos. Muito mega master legal! Tem até ar condicionado! E o treco corre hein!
Quase falei pro senhorzinho: Hey coisinha, vá devagar viu! Devagaaaar. 


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Gentileza gera... Stalker!

Sabem o tiozão que veio me agradecer pq eu o cumprimentei? 

Hoje, fui acordada pela moça da pousada dizendo que ele estava lá na porta, pedindo pra me chamar. Disse que ia me levar pra um passeio, uma exposição de flores em Santarém. 

Acordei no susto e qdo vi quem era, pedi pra menina dizer que ainda estava dormindo. 

Sério?!? Sério?!? Sério?!?

Eu só falei com ele naquela ocasião e o tio já se sentindo meu mais recente amigo de infância.

A mocinha da pousada rolava de rir e dizia: ele tá te querendo!

Pior, ele mora na mesma rua da pousada.
Tô fazendo caminhos alternativos pra entrar e sair.

Caraca!
Miss Laje strikes again - versão terceira idade. Argh!

Ok, podem rir!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A vida é tão Rara...


Então... Me sentei num banquinho da praça, que tinha umas agendas e uns saquinhos num canto. Fiquei lá tomando meu sorvete, ouvindo um músico tocar no bar do lado e esperando o tempo passar.

Eis que chega uma mulher e senta no banco. As coisas eram dela. 
Ela é hippie, artesã, cheia de dreads e bem morena.
Bonita.
Sorri.
Se apresenta.
Seu nome é ******** (eu preciso começar a prestar mais atenção nos nomes das pessoas quando elas se apresentam).
Me apresentei e ela sorriu: minha filha é Rara! Muito parecido.
Contou que foi casada por 10 anos com um paulista, em Embu das Artes.
- E como você chegou aqui? veio passar férias e não voltou mais?
- Lara, e eu tenho cara de turista?
- Hahaha sei lá né. Tanta gente que conheci aqui fez isso.
- Não. Eu vim pra cá pq ia pra Venezuela
- Desconfio que você não foi! Hahahaha
- Pois é. Não fui. Fiquei aqui. E tenho a Rara e a ****. Moro com um companheiro. Lá em São Paulo tenho mais dois filhos: Zeus e ****. Já sou avó de 3 netos. Eles vêm me visitar em dezembro.

Neste momento passou Rara.

- Rara, venha aqui minha filha. Está aqui é a Lara. Lara Rara, Rara Lara.

A menina loirinha, com traços angelicais, tímida, se enroscou na mãe.
- Ela não está acreditando que seu nome é esse. Ela acha que estou brincando com ela.
- Oi Rara. Temos nomes parecidos.

- Mãe, eu quero sorvete!
- Ahhhh só pq vc viu a Lara tomando - e começou a procurar dinheiro em suas coisas. Revirou e não achou. Ficou brava. Me olhou com muita raiva nos olhos e disse: - ****** me roubou!

- Vamos lá, Rara. Vou pagar um sorvete pra você.
- Não, não, eu vou pegar meu dinheiro
- Me deixe pagar um sorvete pra sua filha. Posso?
- Pode sim - enquanto continuava a procurar o dinheiro.

- Vamos, Rara. Qual sabor você quer?
Rara pensando por alguns segundos: quero de morango, num copinho. mas quero um copinho a mais pra dividir com minha prima. Mas é um sorvete só, moça. Só quero dividir.
Rara saiu feliz com o sorvete enquanto sua mãe veio mostrar que tinha achado o dinheiro.
- Flor, não quero dinheiro. Foi um prazer pagar um sorvete para sua filha linda.
- Então você vai ganhar um presente meu. Brinco, colar, pulseira?
- O que você quiser me dar

Ela pediu que um dos caras que estavam com ela fosse buscar uma sexta e me desse o ultimo colar que eles tinham feito, um de olho de boi.

O moço foi até sei lá onde, e voltou com uma sexta. Me deu um colar lindo. Falou o nome de todas as sementes do colar. 

No meio, uma semente de ***** que eles chamam de olho de boi.
Foi quando ele me olhou, mais pra lá do que pra cá, e disse:
- Tem cheiro de... Como chama aquilo de lavar roupa?
- Sabão?
- Isso. Sabão em pó.
Imediatamente cheirei a semente. E ele:
- Não a semente, você. Você tem cheiro de sabão em pó.
Não sei até agora como classificar esta última frase.

*****voltou.
- Flor, o colar é lindo. Muito obrigada!
- Leve. Não importa o valor, a sua atitude hoje valeu mais que tudo - beijou minha mão - você é uma pessoa especial demais. todos somos especiais, mas as pessoas não dão importância às pequenas coisas da vida, ao que realmente é importante. e você dá, então você é mais especial. e você é linda!
- Obrigada! E obrigada por esta oportunidade. Você e sua filha linda alegraram minha noite.
- Vai com Deus! E que Jesus proteja você e sua família.
- Amém para todos nós.

E assim eu voltei, caminhando pelas ruas escuras e quietas, olhando os zilhões de estrelas que enfeitam o céu de Alter do Chão e pensando no quanto podemos fazer de bem uns aos outros com atitudes simples e algumas palavras.
Ahhhh aquela sensação indescritível de uma noite boa encerrando um dia pra lá de bom.
 — at Orla De Alter Do Chao.

Uma semana de 30 anos

Hoje conheci o César. Um gaúcho de meia idade que veio passar uma semana de ferias e acabou ficando por 30 anos.
Ele me levou a Belterra (cidade com uma história fantástica, Google it) e depois me deixou aqui em Pindabal.
Uma hora de estrada. Uma hora de histórias. Sobre a vida, a família, o trabalho.
De tanta história, uma parte que chamou mais atenção: "lá no sul, eu trabalhava com informática. comecei como digitador, depois fui programador. programava em cobol. e naquela época tinha umas impressoras grandes, fitas, cartão perfurado. e como pouca gente conhecia, pagava-se muito bem. até que um dia fui contratado por uma empresa de construção. trabalhar com informática era tão raro e valorizado que negociei meu salário com o diretor da empresa. e era uma bolada. tanto dinheiro que quando ele falou o valor eu fiquei boquiaberto, pensando se era verdade. ele, com medo que eu achasse pouco e recusasse, aumentou a oferta. ganhei muito dinheiro. mas muito mesmo. só que era uma loucura. virava noite, era cansativo, estressante, não tinha final de semana nem feriado. foi quando vim passar ferias de uma semana aqui em Alter do Chão. só voltei pra pedir demissão. não queria aquela vida pra mim não. o que adiantava ganhar dinheiro e não ter tempo pra gastar e não ser feliz? eles ainda queriam que eu ficasse mais dois meses pra passar as coisas pro menino novo, mas não fiquei não. me mandei pra cá. aqui eu faço as coisas quando quero. não dá pra ficar rico, mas dá pra viver bem, e isso é qualidade de vida. e a Sra., trabalha com o quê em SP?"
*silêncio*
- olha só, César, o que é aquela casa ali? 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Apenas um bom dia

Aí tô aqui sentada na mesinha, na praça, comendo meu peixinho, e eis que chega um senhor, com seus 60 e poucos anos e diz:
- com licença! boa noite! eu vim te agradecer!
- boa noite!
- hoje pela manhã vc estava descendo a rua e eu subindo
- ahhhh sim, na motinho!
- sim! e eu te cumprimentei e você retribuiu. e isso me fez MUITO BEM! obrigado!
Ele se apresentou. Não lembro o nome.
Convidei para que sentasse comigo.
E ele passou 30 minutos contando da vida, de como veio parar aqui há 7 anos. Ele é de Americana, SP e vê a esposa esporadicamente, pq apesar dele ter vindo pra cá por causa dela, ela não aguentou morar aqui. Ele, como já tinha feito muitos investimentos, ficou.
"Eu tenho um projeto e um sonho. E só não sonha quem já morreu, né! Então ainda to aqui tentando realizar meu sonho."
Durante o papo, varias vezes parou e ficou olhando para o nada. Como se relembrar doesse.
Terminou o papo me chamando pro café da manhã na casa dele. E dizendo que precisa ir numa cidade vizinha, que é muito bonita, e que pode me levar.
"Faz tempo que eu preciso ir lá pra comprar carne. Pq a carne daqui é muito ruim. Quem sabe você não me dá coragem de ir lá?"

Ahhhh senhor, se eu posso te dar coragem, ainda que seja pra ir na cidade vizinha, então eu sim é que tenho que te agradecer.

O tempo passou na janela, só Carolina não viu...

Ontem conheci Carolina. Uma jovem venezuelana que há 6 anos viaja pelo Brasil vendendo artesanato.
Seu marido, também venezuelano faz artesanato em madeira, enquanto ela faz trabalhos com pedras, penas e contas.
Chegou aqui pela fronteira, pra tentar uma vida melhor, e só teve "sossego" quando nasceu sua primeira filha, em solo brasileiro.
Já esteve no Rio, Parati, Angra, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Ubatuba, e São Paulo. Mais precisamente, morou um tempo no Tatuapé. Segundo ela: "muito grande essa cidade Tatuapé".
Seus artesanatos, lindos, eram colares, anéis, brincos. Ficou surpresa ao perceber que não uso nenhum deles.
Perguntou meu nome. Disse que Lara é um Estado da Venezuela com grande tradição em queijos e todos derivados do leite. (Quase feito pra mim, ahn?!)
Então, enquanto contava sua história, pegou um arame e um alicate e foi entortando, torcendo, dobrando...
E me entregou este singelo marca-páginas. "Já que não tenho nada que você usa, fica com esta lembrança".

Dei dinheiro e ela não queria aceitar, pois era uma lembrança.


Comprei então, o que talvez seja a única compra desta viagem: uma única lembrança, um brinco, mesmo não usando. É lindo. E ela merecia.



Carolina quis saber as horas. Eram quase 14h00. Era hora de dar comida pras crianças.
"Se eu vender mais um pouquinho já posso ir pra casa"
Apertamos as mãos e ela se foi.
Boa sorte, Carolina!
Brasilidade que se encontra até em quem não é brasileiro, de um país que acolhe a todos que pedem colo.

domingo, 30 de junho de 2013

Junho, seu lindo!


Normalmente acordo vermelha. Em Junho acordei da cor da ansiedade. É, Junho, você veio tão recheado que em alguns momentos achei que não pudesse dar conta de tudo. Mas, provavelmente, só achei isso pq ainda não tinha chego no final; e é lá que as coisas dão certo, não?

Você trouxe realizações. Muitas delas. Bati metas, venci desafios, melhor que isso: me venci. A auto-superação faz maravilhas!

Você também trouxe gente nova. E olha; algumas delas pra lá de especiais, e que têm feito muita diferença nos meus dias. Algumas foram especiais por um tempo, e mesmo assim deixaram marcas boas e inesquecíveis. Outras, são apenas números.

Mas nem tudo são flores, até pq elas não nascem na sua estação. Você me trouxe também um par de grandes decepções. Daquelas que fazem parede colorida perder a cor. E que bom que elas vieram! As cicatrizes servem pra me lembrar do que venci. As decepções me fazem crescer mais forte.

Junho, querido, você devolveu parte da minha fé. E como isso foi bom! Eu não podia imaginar que seria você o portador de tamanho presente!

Você, o mês mais importante do ano, presenciou uma das minhas melhores comemorações! Ah, que aniversário mágico e repleto de amor! Só Junho mesmo pra me trazer tanta alegria em 24 horas.E comemorações não pararam por aí. Ultrapassaram limites, fronteiras, cidades. É... esta foi de longe a sua melhor performance nos últimos 38 anos!

Junho, seu lindo, volte sempre! Volte logo! Mas venha devagar. Você, melhor que ninguém, sabe que eu não tenho mais idade pra essa loucura. Comece em Janeiro, venha aos poucos e seja cada ano melhor.

Música tema do mês:
  




quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Meio clichê dizer q viagem a Ásia vira marco, te faz voltar mudada e blablabla. 
Mas a verdade é que a Indochina ensina e te faz pensar. 
Não só pela religiosidade; que sim, impressiona, já que eles são todos muito fiéis praticantes e não só adoram milhões de deuses como sabem as histórias de cada um e ainda mantém as tradições e rituais. Isso impressiona sim, mas a grande surpresa da viagem é encontrar um povo sofrido - e bota sofrido nisso - que sorri com os olhos, que te reverencia ao cumprimentar, que faz o impossível pra te agradar sem nunca ter te visto ( e eu não estou falando do comércio), que te entrega o dinheiro sempre aberto e com as duas mãos; em respeito ao rei cunhado na nota, que faz as melhores massagens do mundo.
Um povo que sobrevive da terra do governo, que não tem onde cair morto, que recebe 200 dólares de salário (qdo recebe muito), que usa moto, tuctuc e bicicleta até pra ir pra festa - pq comprar um carro é caro demais.
Foi uma viagem principalmente de auto conhecimento, com a descoberta de muitos gatilhos e consequentemente o controle dos mesmos.
Uma viagem de desapego. Fui deixando partes de mim e coisas minhas pelo caminho. Foram várias roupas (sim, deixei pelo menos uma por cidade), chinelo, tênis (e foi um que eu adorava), paradigmas, lágrimas (como estas que derramo enquanto escrevo), conceitos e pré-conceitos.
Volto mais leve. Enxergando com mais clareza. Sentindo mais compaixão. Mais sensível.
Levo um pouco da Indochina comigo. Não apenas nos souvenirs, mas em olhares, toques, suspiros, lembranças, cenas, memórias, flashs e sorrisos, muitos deles. Sorrisos de crianças, de jovens, idosos. Sorrisos doados que carregam consigo parte de alguns corações.
É... Eu tô voltando pra casa, outra vez; mas parece a primeira.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Fui dar uma volta pelas ruas próximas ao hotel.
Em uma casa vizinha encontrei este senhor com o bebê no colo e comecei a dar tchau para o bebê.
O senhor pegou a mão da criança e fez tchau pra mim.
Quando ele soltou a mãozinha, a criança começou a fazer tchau sozinha.
Pelo jeito foi a primeira vez que a criança fez tchau e isso gerou uma comoção familiar. 
A mãe veio correndo, as tias, avó e sei lá quem mais.
E ficavam fazendo sinal para eu dar tchau pra criança. E cada vez que ela mexia a mãozinha era uma festa maior.
Feliz 
 — at Bellevue Bungalows.